Folha em branco
Uma folha em branco é como se fosse uma imensidão do universo. É tanto espaço que as palavras somem e se perdem dentro da mente que busca uma forma de esvaziar. Dá um branco mental. As palavras não existem, os questionamentos começam: "escrever o que e para quem?", "quanta bobagem, escrever sobre a folha em branco", "que besteira", "quem vai ler isso?" e assim vai... Cada frase dessa leva a outra e que uma hora irá calar minha vontade de me expressar, de escrever, de digitar. Irá calar meus dedos.
Um dia é como uma folha em branco, eu acordo e percebo as vastas horas para preencher, cada minuto e cada segundo do dia são uma lacuna a ser preenchida, com tarefas, com rotina. Muitas vezes esse dia já está preenchido antes mesmo de dormir, preenchido com o trabalho, com o estudo, com a família, com os filhos, amigos, compromissos, afazeres, animais de estimação, contas a pagar e uma infinidade de coisas fixas e imprevistos que acontecem... Só não está preenchido com um pouco de nós.
E eu vou ficando assim, vazia como uma folha em branco, uma lacuna a ser preenchida, um espaço imenso a ser ocupado, a sensação de não se basta por inteira, porque está dividida demais em tarefas externas, em afazeres externos, em vidas que não são a sua.
Por que é tão difícil dar um pouco de mim a mim mesma? Deve ser porque estou tão acostumada a ser vazia, preenchendo as lacunas alheias que nem sei mais como olhar e viver a minha própria lacuna...
Uma semana é como uma folha em branco, é como um caminho extenso, com pedras e flores, com sol e tempestade, com a escuridão e a lua para brilhar essa minha jornada, minha alma. Às vezes, uma semana também já está fadada à rotina, aos afazeres e, ao olhar para essa semana, parece até que não se tem uma chance de viver algo diferente daquilo que previamente foi determinado.
Um mês é como uma folha em branco, às vezes um grande quadro em branco, uma grande tela para ser preenchida dia a dia, semana a semana, hora a hora, minuto a minuto. Às vezes dá uma certa tristeza olhar esse mês, e não achar uma brecha para preencher a verdadeira parte de nós mesmas, e então fecha-se a janela para a imensidão de espaço a colorir e se entrega naquilo que já é tão comum, as obrigações diárias de um ser humano com o mundo, com a vida, com o mês do utono. Vem o cansaço, a tristeza, a solidão, aquele sorriso amarelo dizendo ao mundo que está tudo bem, mas nem eu sei mais que faço tanta falta a mim que até acredito nesse meu sorriso, e aquela lacuna a ser preenchida já faz parte desse mundão.
Um ano é como uma folha em branco, é como um dia, uma semana, um mês, um quadro a ser preenchido, um universo imenso de espaço, lacunas, caminhos, pedras e flores, lua, sol, tempestades, horas, minutos e segundos de uma imensa folha em branco... Mas um ano de dedicação às lacunas que são minhas é um ano de não saber o que fazer, porque se eu não soube em um minuto, uma hora, um dia, uma semana e um mês, como saberei eu o que preencher em um ano? E então aqui, um pequeno fracasso se instala, um grande muro se ergue, se fecham as janelas, as portas e joga-se a chave fora, pois não tenho forças para seguir.
Não tenho "A coragem para liderar", nem para conhecer "o herói de mil faces", nem para saber se "Não começou com você", nem para descobrir "A jornada da Heroína", nem para entender sobre a "A Lua Vermelha" ou ainda para repetir a jornada com as "Mulheres que correm com os lobos", são títulos que me propus a ler, criando poeira e atravancando minha mente com a cobrança de fazer algo por mim.
Porém, agora estou aqui, digitando essas palavras, despejando nessa tela em branco meus sentimentos e com a esperança de que isso se repita mais vezes. Considero esse post meu momento de hoje, um pequeno preenchimento da minha lacuna diária.
Ao pensar em dias, semanas, meses e anos, gosto de voltar à máxima de que o amanhã não existe e de que o que temos é somente o hoje para viver, mais especificamente o agora.
Um agora em branco, cheio de possibilidades a realizar, nem que seja por cinco minutos.
Respirar.
Viver.
Se entregar.
Não digo que é fácil, pois demorei horas para escrever esse pequeno texto, foi a prestação... Mas estou feliz que consegui.
Escrevo essas palavras para aquelas pessoas que se sentem assim, sem chão, vazias ou preenchidas do mundo menos de si mesmas, que estão cansadas, mas lá no fundo ainda têm uma esperança.
O que aprendi nessa jornada chamada vida até agora é que realmente ninguém vai realizar algo para mim a não ser eu mesma, de que ser boazinha demais dizendo sim aos outros é na maioria das vezes negar minha vontade, e de que mesmo sendo boazinha não sou querida ou valorizada, então no final não vale a pena me deixar de lado, nunca vale, nem por família, nem por trabalho, nem por amigos.
Nascemos só nesse mundo, e morreremos da mesma maneira.
Então, por que não me priorizar? Porque não escrever a minha história da melhor maneira possível?
Irinia Zachello
Preenchendo minha folha em branco em 2025.
Comentários
Postar um comentário
Gostou do post?
Curta , comente e compartilhe!
Deixe seu link e eu retribuo!
Beijos e até a próxima!
Irinia Zachello